DIÁRIOS
DE CUMURUXATIBA
2015
MARÇO
Reinício de atividades na primeira semana de março.
Começa o 8º ano do Projeto de Gente, em Cumuruxatiba. Paralelamente, no Rio de
Janeiro e também em Cumuruxatiba, são realizados encontros para a reforma da
Associação Projeto de Gente. Contamos com a importante colaboração de Lorena,
advogada e amiga da Vila-Escola, que se dispôs, voluntariamente, a estudar o
estatuto, reorganizá-lo e, principalmente, apontar os passos para a
reorganização da PROGENTE.
É bem possível que, ainda em março, se realize uma
assembléia com extensa e necessária pauta. A saber: revisão
do Estatuto; eleição da nova Diretoria; organização das fichas
cadastrais de sócios e suas respectivas categorias, membros efetivos e sócios
desligados através de comunicação escrita; próximas etapas para
regularização da Associação junto ao INSS, RF e CAIXA (CEF); apresentação
da prestação de contas e planejamento financeiro para 2015; apresentação
dos projetos em andamento e planejamento executivo para 2015; avaliação e
deliberação da inclusão do Projeto “Vila-Escola Projeto
de Gente em Cumuruxatiba - BA como filial da Associação ou apoio pela PROGENTE
nos termos do Artigo 2º, parágrafo 3; revisão e inclusão dos sócios que
FIRMAM pela Associação e assuntos Gerais.
Embora tudo isso seja
muito importante, o que mais queremos registrar é o dia a dia da Vila-Escola
Projeto de Gente. Assim, vamos contar um episódio interessante acontecido logo
na segunda semana de março. Cenário: roda de conversas e decisões. Presentes:
cerca de 13 estudantes e 03 educadores. Um dos estudantes coloca como pauta a
obrigatoriedade na participação nas rodas. Até hoje, 7 anos e pouco de
atividade, a roda não tem presença obrigatória. O argumento é: como realizar um
trabalho de cunho democrático com uma regra ditatorial apontada direto para o
coração da comunidade? Sempre pareceu um contra senso. Entretanto, há muito
percebemos que a roda não é o melhor momento para a moçada. Concluímos, com
tristeza, que as crianças não estão nem um pouco acostumadas a serem ouvidas, a
terem direito de voz. Não decidem nada, encontram tudo pronto, mas, em
contrapartida, obedecem o que foi ordenado pelo adulto.
Pois bem, um menino de
8/9 anos propôs o fim da voluntariedade quanto a presença nas rodas. Seu argumento
surpreendeu: “quero que a roda seja obrigatória porque, assim, serei obrigado a
frequentá-la.” Um educador não perdeu tempo e mostrou a contradição ao menino:
“ora, exatamente por não ser obrigatória você precisa apenas desejar
participar; é só chegar.” A triste constatação foi perceber que, obrigado, ele
viria. Um menino de 8/9 anos acostumado a obedecer. Uma educadora, percebendo o
conflito surdo do menino, propôs dar uma força a ele: “que tal se eu te chamar
e a gente juntos vai pra roda... a roda, muitas vezes, é mesmo chata, demora
muito até todo mundo dizer o que acha das coisas.” O menino concordou.
Do mesmo modo, vemos
como a reorganização do espaço físico da Vila-Escola – muitos leitores deste
texto já sabem que, durante o verão, somos uma pousada – não é uma atividade
querida. Assim, precisamos trazer os nossos objetos que permaneceram guardados
na temporada de verão. Em parte é trabalho chato mesmo, mas, por outro lado,
cremos que existe uma falta de costume da criança se sentir “dona” do espaço. O
espaço não é delas, é do adulto que manda e desmanda, que inventa as regras e
punições. São 7 anos e alguns vão, pouco a pouco, percebendo que ali tem uma
coisa diferente.
Este é um ponto
delicado para o educador de uma escola libertária: é preciso ter paciência. É
preciso ter sempre em mente que aquela criança está, na maior parte do tempo,
imersa em um ambiente opressivo, autoritário, competitivo. O próprio educador
precisa estar, todo o tempo, atento para limpar ranços autoritários,
opressores, reações que emergem de profundezas ainda a explorar.
Nesta semana foi
proposta uma mudança importante na dinâmica da V-E. Está em pauta o seguinte:
de 13 às 15h, acontecerão os Projetos de Saber – propostos por crianças e/ou
adultos. Já existem mais de 20 ideias. Às 15, lanche e, até às 17, atividades
soltas. A diferença é que as crianças escolherão os projetos e virão para
colocá-los em prática. O que acontece, hoje em dia, é que temos educadores de
menos. Assim, os Projetos de Saber são constantemente interrompidos pelas ações
daqueles que não estão envolvidos em algum deles. Não é justo que um grupo não
veja sua proposta avançando porque o educador é demandado por 4, 5, 6 vezes
durante a realização da atividade. Uma criança pode estar em quantos Projetos queira.
Ainda faltam detalhes que serão debatidos na próxima semana.
De todo modo, a
proposta gerou inquietação, divisão de opiniões. A ver!
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