Na
Vila-Escola ninguém manda em ninguém. Todos combinam o que é o
melhor para todos. Isto dá muito trabalho. Às vezes a gente até
cansa de tanta conversa que é preciso ter pra acertar as
combinações. Mas, vale a pena porque, lá, não tem nem oprimido
nem opressor.
É
uma pena que na sociedade dos adultos tem muito disso aí: opressão.
Hoje,
nesta apresentação, a gente resolveu contar – em forma de canto,
de música e de teatro – duas pequenas estórias de opressão.
Uma
tem a ver com o retirante que foge da seca do sertão e vai buscar
trabalho na cidade grande. Quer dizer, ele deixa de ser quem ele é –
um lavrador, um boiadeiro - para ser mais uma mão de obra qualquer,
lá longe da terra dele.
A
outra estória tem a ver com a escravidão dos negros africanos no
Brasil e sua luta pela liberdade. Quer dizer, uma luta para eles
serem quem eles eram, de verdade: um povo de gente livre. O pior é
que esta é uma luta que ainda não acabou.
Théo, Dinho e Ryan na concentração antes do espetáculo....
O
meu nome é Severino, não tenho outro de pia.
Como
há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me
chamar Severino de Maria.
Como
há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da
Maria do finado Zacarias.
Mas
isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia, por causa de um
coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor destas
sesmarias.
Como
então dizer quem vos fala ora a Vossas Senhorias?
Vejamos:
é o Severino da Maria do Zacarias, lá da Serra da Costela, limites
da Paraíba.
Mas
isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de
Severino, filhos de tantas Marias, mulheres de outros tantos, já
finados, Zacarias, vivendo na mesma Serra magra e ossuda em que eu
vivia.
Somos
muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que
a custo se equilibra, no mesmo ventre crescido, sobre as mesmas
pernas finas, e iguais também porque o sangue que usamos tem pouca
tinta.
Somos
muitos Severinos, iguais em tudo e na sina: a de abrandar estas
pedras suando-se muito em cima, a de tentar despertar a terra muito
extinta, a de querer arrancar um roçado da cinza.
Mas, para que Vossas Senhorias
me conheçam melhor, e melhor possam seguir a história de minha
vida, passo a ser o Severino que em vossa presença emigra.
Lucimária, Nossa Rosinha, ajudada pela educadora Maíra, se prepara e Dudu observa...Dinho, nordestino de primeira e Buca, nosso querido Severino....
Durante a apresentação deste trabalho, conversamos – e vamos conversar
mais ainda –sobre a história da escravidão no Brasil, sobre a
seca no Nordeste, sobre o problema do racismo, da má distribuição
de renda, sobre o poema do João Cabral, olhamos para o mapa do
Brasil, falamos de climas e de vegetação, e etc e etc...
É
assim que a gente estuda, por exemplo, história, geografia,
português, lá na Vila-Escola Projeto de Gente.
Muito
obrigado!
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